
Quando jovem em busca de uma escolha profissional acreditava que estabilidade, reconhecimento e satisfação entre o ofício e a vida, como um todo, eram os pilares mais importantes. Foi por esse viés, somado, ainda, à idealização social que durante quatro anos tentei -quase que incansavelmente- entrar para a faculdade de medicina. Morei em três estados diferentes, longe da família, desde os dezesseis anos de idade, em busca de mais conhecimento teórico para enfrentar as temidas provas de vestibular. Esta experiência, sem dúvidas, me formou na escola da vida muito antes de eu entrar para a faculdade. A formação que incluía estudos sobre dedicação, disciplina, propósito, trabalho duro, repetição, cansaço, abdicação e perseverança, teve sua formatura justamente na ruptura entre aquilo que eu buscava: saúde; e aquilo que eu estava adquirindo: adoecimento.
“A ruptura de ideais aconteceu quando me vi buscando saúde de forma adoecida”. Olhei profundamente para todo aquele contexto e não consegui me projetar entre causas e consequências, sintomas e medicamentos, exames e diagnósticos. Percebi que havia muitas limitações, as quais não respondiam à minha busca pessoal. Foi nesse momento que encontrei o curso de Naturologia. Onde nada nela estava pronto, socialmente aceito e estável. Na verdade, era (e ainda é) um curso “desafio”, que exige empreender e abrir caminhos, mas que, sobretudo, ensina a arte da vida.
Neste contexto, que hoje, formada, e plenamente realizada em minha profissão, naturóloga, ressalto a importância das rupturas, quebras e rompimentos para os processos que acompanho em consultório – ciclos adoecidos, repetições de padrões e comportamentos, vínculos pouco saudáveis. Logo, é a partir da identificação e conscientização deles que o novo é passível de construção e ressignificação, tornando o viver mais saudável.
A origem do curso de Naturologia trazia os pilares da arte, educação e saúde para embasar sua formação, de certa forma mantenho esses direcionamentos, mesmo sabendo que é para além deles que a profissão se consolida. E me inspiro, nessa mensagem - minha história- a demonstrar o potencial das rupturas sociais e científicas na arte de curar, na saúde e na educação.
Portanto, mesmo correndo o risco de parecer insolente ao leitor, preciso dizer que é necessário, sim, que se questione o paradigma que rege a saúde e que se possamos romper e transformar essa visão em uma nova forma de se ver o ser humano. Reconhecendo que o velho e socialmente clamado conhecimento científico, o saber biomédico, a visão cartesiana de mundo estão perdendo o sentido, à medida que cada vez mais se afastam do sujeito. Há uma crescente e notável necessidade que reconhecer os indivíduos em sua totalidade e complexidade –paradigma vitalista- pelos profissionais de saúde, para que sejam agentes de si (educação em saúde), desenvolvendo seu potencial enquanto seres em construção e crescimento humano, sendo nesse momento em que a arte de curar se estabelece.
Com esse apelo, quase emocional, mas pautado, sobretudo na minha experiência de vida e profissional é que me permito no dia de hoje agradecer as rupturas e desafios com que a vida me presenteou, pois no encontro com a Naturologia posso desenvolver plena e conscientemente minha missão nessa jornada. Reverencio, por tanto, aos meus interagentes, aprendo todos os dias enquanto auxilio no despertar do potencial de cada um. Muitas vezes, suas histórias são as minhas. Muitas vezes o toque que ofereço me acolhe. Muitas vezes o resultado que temos é o que está sendo curado em mim. Só restando, por fim, reverenciar ao Divino, ao Criador, Àquele que torna tudo possível para que eu possa sempre ser instrumento de Vossa criação.
23 de março - Dia do Naturólogo
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